Três Marias

Estava numa festinha infantil quando observei três amigas: Maria Cláudia, Maria Eduarda e Maria Alice (segundos nomes fictícios), lindas meninas na faixa dos 6/7 anos de idade. Inicialmente, me chamou atenção a coincidência dos nomes, mas acabei observando que as semelhanças entre elas não se limitavam a isso. Tinham o mesmo modo de se vestir, o mesmo penteado, o mesmo gestual... Considerando ainda a semelhança física existente, posso dizer que de costas era difícil identificar quem era quem. Três Marias. 

Isso me fez lembrar uma frase que minha mãe sempre usava: "Não existe somente uma Maria no mundo". A primeira vez que me recordo de ter ouvido essa frase foi quando eu achei que minha prima estava usando o meu vestido, pois usava um exatamente igual, e minha mãe usou a frase para enfatizar que não havia somente um vestido daquele no mundo e que ela também tinha o mesmo modelo. Algo óbvio, mas que parecia surpreendente para uma criança de 3/4 anos. Mais tarde seria totalmente natural, já que minha mãe e minha tia eram parceiras de compras e não foram poucas as vezes que encontraram uma boa promoção e trouxeram o mesmo modelo para nós duas, algumas vezes sem nem mudar a cor. Lembro de uma jardineira que nós até combinávamos de usar juntas, já na adolescência.

Essa frase foi e ainda é usada por minha mãe muitas vezes. Quando criança, eu interpretava que era para enfatizar que objetos e condições não são únicos e exclusivos, e que o fato de ser ou parecer igual não quer dizer necessariamente que seja o mesmo. Hoje eu compreendo que a frase é uma provocação para lembrar que muitas vezes a diferença está nos detalhes.

Num mundo em que as pessoas buscam se enquadrar em padrões de beleza e comportamento, na ânsia de serem aceitas, fiquei refletindo sobre o que pode estar passando pela cabecinha das nossas filhas. Ver tantas mulheres empenhadas na busca do peso certo, do corpo malhado e esteticamente tratado, do cabelo no tom da estação, do visual da moda, pode estar levando as meninas a perseguirem um padrão, se espelhando nas mães ou nas celebridades da TV. Nessa fase em que sua personalidade ainda está em formação, que tipo de estímulo estamos dando para a valorização da sua própria identidade ? O que estamos fazendo para nossas crianças descobrirem sua própria essência e a transbordarem de dentro para fora, não só no visual, mas também nas suas atitudes ? 

Não existe uma só Maria no mundo. E é justamente a diversidade de Marias, com perfis, ideias, interesses e preferências próprias, que enriquece as relações. Esse é o verdadeiro sentido da vida em sociedade. É o conceito de coletividade, não simplesmente constituída por grupos de indivíduos, mas sim, indivíduos que respeitam e valorizam suas individualidades. Não há problema em nos vestirmos igual e em compartilharmos interesses, desde que sejamos autênticos. O que não podemos é sufocar quem realmente somos para agradar a outrem, para atender a um padrão socialmente aceito. Afinal, não somos um monte de "Maria vai com as outras". Somos Marias na essência do nome, cujo significado, "senhora soberana", já se contrapõe à submissão, à possibilidade de ceder aos interesses dos outros em detrimento de nossas convicções. 

Cada Maria é especialmente única. Apenas precisa ter coragem de mostrar quem realmente é. Simples assim.

Por outro lado, para saber quem é Maria - Maria José ou José Maria, não importa -, as pessoas precisam aprender a olhar além da aparência. Só quem sabe distinguir exatamente a imagem e a essência, consegue enxergar as pessoas como realmente são. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Esse espaço é seu... Deixe seu comentário e vamos conversar!