Todo dia é domingo


Hoje peguei um táxi em São Paulo, para percorrer do aeroporto de Campo de Marte a Congonhas. Corrida que a depender do horário, poderia variar de 30 minutos a 2h30. Cansada, meu desejo era desfrutar do silêncio daqueles minutos e, com sorte, ainda tirar um cochilo e compensar um pouco o déficit de sono.

Embarquei no táxi de um senhor sorridente e bom de papo, que tornou a corrida mais rápida, não pela velocidade com que conduziu, mas pela leveza daqueles momentos. Dedicando quase 15 horas por dia ao seu ofício, ele recebeu essa passageira como se estivesse abrindo a porta da sua casa a uma visita esperada, com muita cordialidade e alegria, pondo em prática a conhecida frase: "a casa é sua, pode entrar". Percebi na viagem que seu táxi é a prova da filosofia sobre o trabalho ser a segunda casa. Clichê ?

Papo vai, papo vem, fiz a pergunta óbvia: como não se estressar no trânsito em São Paulo ? E ele, com toda naturalidade, me disse que nunca se estressa. (Oi ?!) Vendo a minha surpresa, ele continuou: “Eu nunca me estresso porque eu adoro dirigir.” Fazer o que ama, mais um clichê. Mas vi no entusiasmo com que falava que aquelas palavras eram expressão da sua verdade. Ele sempre sonhou em dirigir, então, trabalhar no volante é uma realização. E completou que pode enfrentar horas e horas de trânsito ruim, que continua tranqüilo, porque dirigir para ele é fonte de prazer. Ele relaxa enquanto trabalha. Que privilégio ! Não somente fazer o que gosta, mas reconhecer e ser grato por isso.

Também confessou que este estado de espírito relaxado pode ter sido herdado da sua terra natal. Afinal, todo bom baiano é descansado de alma... Ele afirma que pode entrar o passageiro estressado que for, ele não se aperreia.

O tempo voou e a sorte também contribuiu, porque o trânsito fluiu. Não dormi na corrida, mas estava descansada, como o meu amigo baiano. No final da viagem, perguntei a ele seu nome: “Domingos.” Nome mais apropriado não haveria, para aquele homem que consegue viver como se todo dia fosse domingo.

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