O silêncio é mais que a ausência de ruído. O silêncio é um estado. O silêncio fica dentro de nós e pode gritar quando estamos calados ou pode nos transmitir paz no meio da confusão.
Mas encontrar esse lugar onde mora o silêncio nem sempre é fácil. Exige que enfrentemos nossos pensamentos e sentimentos mais profundos. Aqueles que não revelamos nem para nós mesmos, porque muitas vezes nem temos consciência deles. Outras vezes porque não queremos que eles nos invadam, mas eles insistem em bater na porta.
Lendo o livro "O poder do Silêncio", de Anselm Grum, descobri o exercício do porteiro, que é um exercício para confrontar cada pensamento e emoção, para irmos ao seu âmago. O autor cita Evrágio Pôntico para construir essa metáfora:
"Sê um porteiro do teu coração e nao deixes entrar nenhum pensamento sem identificação. Interroga cada pensamento um por um, dizendo: "És um dos nossos ou um dos contrários?" Se ele pertencer à casa, encher-te-a de paz. Mas se ele for do inimigo, envolver-te-á num emaranhado de raiva ou te encherá de cobiça."
De acordo com o autor, todo pensamento e todo sentimento tem um determinado sentido. A raiva pode dizer pra nos cercar melhor, para não nos enganarmos, para não colocar tanta expectativa nos outros. O ciúme pode nos revelar uma necessidade de atenção, de exclusividade, que pode ser nociva a nós mesmos. O medo pode indicar a medida do que eu realmente penso que sou, que me considero apto a alcançar. E assim por diante.
Enfim, ao reconhecer os pensamentos, podemos nos dar conta do que realmente querem nos dizer e colocá-los na perspectiva certa.
Eu tinha o hábito de sufocar as emoções e pensamentos que me incomodavam. Não expressava e também os afastava sempre que me invadiam. Mas percebi que por mais que me esforçasse, eles sempre voltavam ou criavam novas situações. Algumas emoções são perturbadoras e enquanto não as enfrentamos, ouvindo o que têm a dizer, fica dificil conviver com elas. Por isso o porteiro é uma metáfora interessante. Uma vez identificados os pensamentos, cabe à gente dizer quem pode ou não entrar.
Esse exercício, porém, pode nos levar a um caminho que não percorremos, do encontro com nosso "eu verdadeiro". Esse encontro pode ser bastante conflituoso, porque o confronta com a nossa autoimagem, com o nosso "eu ideal", que em geral não é quem realmente somos.
Mas só a verdade liberta. Então, fugir não é o caminho. Só depois de ouvir os gritos do nosso silêncio, aquela voz interior que insiste em dizer as verdades que a gente não quer ouvir, é que a gente realmente pode conduzir a nossa vida na direção que realmente nos traz sentido. E fica em paz.
Toc toc. Hora do porteiro perguntar quem é...
Bj bj!
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