A mala da Kinha

Há muito tempo eu venho pensando em fazer um blog. Toda menina na década de 80 passou pela fase do diário, com chave e tudo, guardado embaixo do colchão, e depois, nos anos 90, pela agenda, também mantida a sete chaves e só compartilhada com as amigas mais íntimas. Agenda colorida, que começava o ano fininha e quase nem fechava no final, de tanta coisa pendurada, do papel da bala que recebeu do ficante ao ticket da sessão de cinema que foi assistir com a galera.
Eu e minhas amigas até tínhamos um código secreto, um alfabeto diferente, que só nós conhecíamos, para compartilharmos segredos na agenda e não corrermos o risco de cairem em mãos erradas... Não era algo muito elaborado, hoje eu reconheço, mas nos salvou daquelas olhadas "despretensiosas" das mães. Mas, afinal, não eram lá grandes segredos que tinham meninas de 13 / 14 anos! Certamente, as mães que decifraram nossos "códigos" devem ter viajado ao recordar naquelas linhas os temores juvenis, as inseguranças, as primeiras paixões e decepções, enfim, a montanha-russa típica da adolescência.
Escrevendo. Era assim que a gente liberava nossos sentimentos, sem medos e sem censuras, e ia se conhecendo um pouco mais, lidando melhor com as angústias e se preparando para os desafios da vida.
O tempo passou, nao sou mais aquela menina dos anos 90, mas as angústias, embora diferentes, continuam aqui. Cada etapa da vida é um novo desafio, que estimula um repensar sobre nós mesmos, uma oportunidade para se reformular.
E a vontade de escrever também continua! Só que em pleno século 21, com a internet bombando e as pessoas completamente conectadas, não dava para recorrer à agenda 2013 da papelaria, né ? Estava na hora de descobrir o blog.
Pois bem, estou aqui, cheia de coisas na mala, para dividir, para compartilhar, para simplesmente abrir. Nesse processo, algumas coisas vou deixar para trás, no fundo da mala, e outras vão aflorar e serão vistas de cara. O que certamente não poderei fazer é tirar coisas da mala, porque, boas ou más, todas as coisas que carrego comigo fazem eu ser o que sou. Deixando no fundo da mala, meio que esquecidas, posso não usá-las mais, mas na hora certa lembrarei delas, e isso vai me impedir de encher a mala com coisas que já aprendi que não me servem.
Sendo eu a própria mala, também posso ser difícil de carregar... Nessa hora, conto com sua compreensão em entender que sou apenas eu. Alguém como qualquer outro alguém, com virtudes... E defeitos também! Afinal, todo mundo às vezes vira um pouco mala. Sem alça e sem rodinhas! Você pode não concordar comigo, mas mesmo assim reconhecer a minha sinceridade. Pode não estar nem aí para o que digo, mas apoiar o meu direito de expressão. O importante é que você lembre que só carrega outra mala quem quer.

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